Contos de Fadas em versões originais e pouco conhecidas

02/07/2013 18:41

Muitos de nós crescemos ouvindo contos de fada através de nossos pais ou mesmo em filmes feitos pela Disney, porém muitos nunca souberam que as histórias originais estão longe de terem um final feliz. 

A maioria dos belos contos de fada é uma adaptação de histórias que eram contadas entre os séculos XVII e XIX, oriunda, em grande parte, do folclore europeu. Passando de geração em geração, elas não tinham pouco ou quase nenhum intuito de entreter, ou criar a imagem de que no final o bem ganha contra o mal e todos vivem felizes para sempre, a ideia em se contar um “conto de fada” era ensinar, passar uma lição ou uma moral e poucas vezes apenas distrair a criança como forma de entretenimento. 

Assim, muitas das histórias originais trazem todo um contexto e desfecho considerado macabro e violento nos dias atuais. Apesar de terem sido extremamente modificadas ao longo dos anos, como uma espécie de adaptação cultural, principalmente no que diz respeito à criação das crianças, muitos contos, alguns escritos pelos famosos Irmãos Grimm, outros por escritores individuais como Charles Perrault (o pai da literatura infantil), ainda permanecem com o enredo praticamente original. 
Aqui nesse álbum serão mostrados alguns deles, todos escritos pelos Irmãos Grimm, Charles Perrault e Hans Christian Andersen. 

 
 

A Bela Adormecida (Versão de Charles Perrault, inspirada no conto de Basile)

Na história deturpada pela Disney (a parte bonita é baseada no conto dos Irmãos Grimm), a jovem princesa entra em sono eterno após furar o dedo em uma agulha envenenada por uma bruxa/fada/feiticeira que não fora convidada para a festa de seu nascimento. Como vingança, a bruxa avisou que, quando a jovem completasse 16 anos, morreria. Após anos lutando para chegar na torre em que Aurora descansa, o príncipe beija a princesa, acordando-a.

As versões da história são muito misturadas, porém, no conto de Perrault, a princesa entra em sono profundo ao picar o dedo em pedaço de linho, que fica preso abaixo de sua unha. Após um tempo, um rei a encontra e se apaixona, a jovem acorda, ambos se casam e tem dois filhos, Sol e Dia. Contudo, o príncipe é enviado para uma batalha e nesse meio tempo, a princesa e os filhos vão morar na casa da sogra, a rainha, que teria ascendência ogra. Com suas inclinações para o canibalismo, a velha ordena a morte das crianças e num ato de compaixão do cozinheiro, este utiliza animais para a majestade. Com a volta do príncipe, a rainha se atira num poço cheio de serpentes, direto para a morte.

Na história de Basile, entretanto, há um enredo um pouco mais macabro de violento ao afirmar que a princesa é estuprada pelo príncipe enquanto ela ainda dormia. Após nove meses dá a luz duas crianças que, famintas, buscam o leite da mãe. Acidentalmente um dos bebês suga o dedo da bela adormecida, retirando a farpa envenenada, o que faz a princesa acordar. Esse seria o final do conto mais antigo, de Basile.

 

A Pequena Sereia (Versão de Hans Christian Andersen)

Muitos assistiram ao filme da Disney que conta a história de Ariel, uma sereia que desiste de sua vida no mar para se tornar humana e ganhar o amor do príncipe Eric. No final do filme, como a maioria bem sabe, a jovem sereia consegue virar humana e se casa com seu amor. Porém, no conto original de Andersen, publicado em 1837, quando Ariel aceita tomar a poção que a transformaria em humana, a bruxa do mar avisa que ela teria pernas, mas ao andar, sentira como se estivesse pisando em facas afiadas, fazendo com que seus pés sangrassem.

Além disso, a sereia apenas conseguiria voltar a falar e ter sua alma de volta quando o príncipe a beijasse, amasse de verdade e se casasse com Ariel; caso contrário, se Eric se unisse a outra mulher, a pequena sereia morreria com o coração despedaçado e seria transformada em espuma do mar. O final de Ariel é muito controverso e alguns afirmam que Andersen aliviou o desfecho, fazendo com que a sereia virasse a “filha do mar”, à espera de sua alma ir para o céu.

Já em outras versões, afirmada por boa parte dos historiadores como a original, é oferecido a Ariel uma faca que ela poderia utilizar para matar o príncipe e com o sangue derramado, ela voltaria à forma original. Sem coragem de matar Eric, a sereia saltaria de volta ao mar e morreria como uma espuma.

 

 

 

 

 

Chapeuzinho Vermelho (Versão de Charles Perrault)

Todos ouvimos, quando crianças, a história da garotinha de capuz vermelho que escapa, junto com sua avó, das garras do lobo mau. Ao longo dos anos, a história original sofreu inúmeras modificações; algumas traziam um lenhador como o salvador da menina e da senhora, outras versões sequer citam o homem. Contudo, na versão original, escrita por Charles Perrault no final do século XVII, não existe lenhador e ao final, tanto a chapeuzinho vermelho quanto a vovó morrem nas garras do lobo. 

A moral da história tinha a ver com a passagem da menina para a vida adulta, cuja cor vermelha trazia a questão da menstruação e o lobo mau era uma metáfora para aproveitadores que estariam pelas ruas à procura de mocinhas ingênuas.

 

Cinderela (Múltiplas versões)

A história de Cinderela remonta ao ano de 860 a.C. na China. Poucos conhecem a versão original justamente por ser um conto atemporal, que esteve presente na cultura de diversos países (como na China, depois contada por Charles Perrault, Irmãos Grimm e, finalmente, pela Disney). Isso se deve, talvez, pelo fato da história de Cinderela ser uma alegoria para o sonho de muitas pessoas serem reconhecidas e alcançarem seus anseios. 

A questão é que a estrutura e boa parte do conto é sempre a mesma; uma jovem linda, após o pai morrer, transforma-se em vítima dos caprichos de sua madrasta má e as filhas invejosas. Crescendo nesse ambiente, a gata borralheira (esse nome é oriundo de um conto popular italiano, o qual Charles Perrault se baseou) sonha em um dia finalmente sair dessa vida; eis que chega um convite para um baile no castelo, diretamente do rei.

A madrasta impõe como condição para a jovem ir apenas ter um vestido, o que é providenciado prontamente por Cinderela. Na noite do baile, quando a bela moça se apresenta para ir, num acesso de raiva e inveja, as irmãs rasgam o vestido, impossibilitando Cinderela de ir à festa.

A moça chora sozinha no casarão e de suas lágrimas surge sua fada madrinha que faz um novo vestido, sapatinhos de cristal e uma bela carruagem. Cinderela vai à festa, dança a noite toda com o príncipe e meia noite precisa voltar correndo antes que o encanto da fada madrinha seja desfeito. No meio do processo, a jovem perde um dos sapatinhos de cristal que é utilizado pelo príncipe para encontra-la novamente.

Em algumas versões, quando a comitiva real chega à casa de Cinderela, a madrasta tranca a moça no sótão e as irmãs fazem de tudo para que seus pés entrem no sapato; inclusive chegam a cortar pedaços dos pés, fatiando os dedos e o calcanhar. Por fim, a gata borralheira consegue escapar de onde estava presa, calça o sapatinho e se casa com o príncipe. Como castigo, a madrasta e as irmãs tem os olhos comidos por corvos.

A moral por trás também pode ser não alimentar a inveja da felicidade de ninguém.

Fonte: LANG, Andrew. “The Blue Fairy Book”. Londres: Longmans, Green & Companhia, 1891.